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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Histórias do carnaval



Por Joel Rufino dos Santos*

Após a queda de Napoleão, em 1815 o rei Dom João VI contratou de lá um grupo de sábios e artistas para civilizar o Brasil: os irmãos Taunay, Debret, Joaquim Lebreton, Simon Pradier.  O rei era sensato, a mulher dizia que não, o governo esquizofrênico: inglês na economia, francês na cultura. Pomposamente, o grupo francês foi chamado de Missão Artística Francesa. Como a sífilis grassava solta, zombavam:
“Dom João é ótimo. Vai sifilizar o Brasil.”
Na comitiva, veio o jovem arquiteto Grandjean de Montigny. Os prédios da antiga Bolsa do Rio e da Academia de Belas-Artes são obra dele. Para envelhecer tranquilo, construiu uma casa na Gávea, hoje anexada ao campus da Universidade Católica.
A perdição de Grandjean era amar o carnaval, mulatas, tamborins, essas coisas. O entrudo, invenção portuguesa, era uma guerra de ovos podres - ou recheados de farinha e gesso - canecadas de milho ou de feijão, panelas de tremoço que se jogavam das janelas. O carnaval que temos hoje é filho do entrudo mais o bloco de negros mais o baile de grã-finos mais os desfiles das sociedades, espécie de ópera de pobre. Os preferidos, porém, eram os limões-de-cheiro, bolas de cera cheias de perfume ou de xixi. Grandjean tinha 74 anos e alguém, um parente, uma amiga, deve ter avisado:
“Não vá. O carnaval está cada vez mais violento.”
Ele não ouviu. Na passagem de um bloco, tomou um banho, pegou resfriado que pensou em “cortar” com cachaça e mel - como se vê, remédio antigo. Com uma semana virou pneumonia e ele bateu as botas.

 
*Joel Rufino dos Santos é um historiador, professor e escritor brasileiro. É um dos nomes de referência sobre cultura africana no país.

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