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terça-feira, 21 de março de 2017

Aracy, a heroína brasileira



O nome de João Guimarães Rosa é conhecido de norte a sul do Brasil. Um dos maiores escritores do país, seus personagens são inesquecíveis. Mas e de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa, alguém já ouviu falar?
Para quem não sabe, Aracy foi o grande amor e a grande companheira do escritor. Dizem que o personagem “Diadorim” do livro “Grande Sertão, Veredas” foi inspirado nela.
Ela nasceu em Rio Negro, no Paraná, e desde cedo sua beleza e bondade sobressaíram.
Casou-se cedo, porém o casamento não deu certo e foi viver com uma tia na Alemanha, já que mulheres separadas não eram bem vistas por aqui. Foi trabalhar no consulado brasileiro, na seção de vistos, e lá conheceu Guimarães Rosa, também separado, que era diplomata. Em plena Segunda Guerra, esta mulher corajosa se arriscou para salvar vidas. No ano de 1938, tinha entrado em vigor no Brasil, a célebre circular secreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy nem deu bola para a tal circular.
Como ela despachava com o cônsul, dava um jeito de misturar junto com os demais papeis, os vistos para os judeus. Desta forma, ela conseguiu salvar centenas de pessoas.  O marido, nunca colaborou com isso, mas a apoiava completamente.
Seu coração generoso foi mais além.  Na época, a Alemanha vivia um racionamento de comida e, os judeus recebiam uma quantidade menor de alimentos. Aracy passou a alimentá-los com a cota extra que recebia no Consulado. Ia de casa em casa distribuindo comida. Dizem que Guimarães Rosa a acompanhava nessas distribuições, mesmo morrendo de medo pelo que poderia acontecer com sua mulher.
Anos mais tarde, em 1968, Aracy pode demonstrar de novo sua coragem ao abrigar artistas perseguidos pela ditadura no seu apartamento.
Aracy é a única mulher brasileira que tem o nome no Museu do Holocausto, em Jerusalém. Lá, há uma árvore plantada em sua homenagem no chamado Jardim dos Justos, onde são citados outros protetores famosos, como Oskar Schindler.
Ela viveu com Guimarães Rosa, por 30 anos, até 1967, quando ele faleceu. Aracy, uma mulher admirável, viveu 102 anos, mas infelizmente nos seus últimos anos de vida não se lembrava de mais nada, pois o Mal de Alzheimer tinha destruído a sua memória.


Malu Pedarcini

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