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Buquê de noiva

domingo, 5 de março de 2017

Candidato a deputado

Por Rolando Boldrin*

Sempre que chega uma eleição me vem uma saudade danada do Genésio. Ele era do sertão da Bahia, chegou com uma trupe de migrantes e se acostou lá na minha terra. Genésio devia ter uns 50 anos quando resolveu, por ser muito popular, se candidatar a deputado. É preciso que se diga que era analfabeto de pai e mãe. Apesar de viver há 36 anos em São Joaquim da Barra, não perdia aquele sotaque de baiano da molesta. Isso posto, vamos à campanha política. Nos discursos, ele estava sempre acompanhado, como é natural, por seus cabos eleitorais – sempre tem aquele que dá os palpites apelativos ao pé do ouvido do candidato:
Cabo eleitoral (ao ouvido do Genésio) – Fala da fome, Genésio. E ele falava… 

Mas o que atraía mesmo a multidão era o bordão que o Genésio usava para abrir cada comício:
Genésio (com sotaque do sertão da Bahia) – Eu sou a fulô que nasceu na Bahia… E veio dá o botão aqui em São Joaquim da Barra.
Era risada geral. Nessas caminhadas discursivas, eis que Genésio chega na cidade de Ituverava.
Genésio – Eu sou a fulô que nasceu na Bahia e veio dá o botão em São Joaquim da Barra. Povo de I-ga-ra-pa-va…
Cabo eleitoral (corrigindo ao pé do ouvido) – Genésio! Não é Igarapava, é Ituverava!
Genésio – Povo de I-tum-bi-ara…
Cabo – Genésio! Você errou de novo. Não é Itumbiara. É Ituverava!
Genésio (ainda no microfone) – Dêxa de sê burro, ô cabo! Pois tu sabe que cidade do interiô é tudo a mêma merda…

É claro que o querido Genésio perdeu as “inleição”…
 

*Rolando Boldrin é apresentador, compositor e ator

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