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Buquê de noiva

segunda-feira, 27 de março de 2017

Otto, o mineiro genial



Otto Lara Resende por Rafael Capanema*

Deixemos que ele mesmo se descreva: Um sujeito delicado e violento. Delicado pra fora, violento pra dentro. Um poço de contradições. Um falante que ama o silêncio.
Foi jornalista por quase toda a vida, mas exerceu e pensou em exercer muitas outras profissões. “Entrei no jornalismo exatamente como cachorro entra na igreja: porque achei a porta aberta.” Formado em Direito, chegou até a ser diretor de banco. Sentia uma certa nostalgia da advocacia e cogitou ainda ser ator e escritor de peças.
Mineiro de São João del Rei, nascido em 1° de maio de 1922, passou a maior parte da vida no Rio. Trabalhou ao mesmo tempo como redator de dois jornais que viviam trocando farpas: o Diário de Notícias, de Orlando Dantas, e O Globo, de Roberto Marinho. Ghost-writer de ambos os diretores, chegou ao cúmulo de escrever um editorial atacando O Globo, para depois redigir a réplica do rival, e depois a tréplica…
Teve a glória de ser imortalizado como título de uma peça do amigo Nelson Rodrigues, apesar de ter ficado um tanto irritado com a homenagem. Grande contador de histórias, gostava de ser o centro das atenções. É autor de frases geniais: “A Europa é uma burrice aparelhada de museus”, “Abraço e punhalada a gente só dá em quem está perto”, e a mais famosa: “O mineiro só é solidário no câncer”.
Morreu em dezembro de 1992, depois de uma cirurgia mal sucedida. Deixou livros de crônicas, contos e romances. Ainda na juventude, ganhou de Fernando Sabino uma graciosa sugestão de lápide: “Mineiro ilustre, mancebo guapo / Deixou saudades, isso se entende: / passou cem anos batendo papo”.

*Rafael Capanema é jornalista e esta crônica foi publicada na revista Almanaque Brasil em maio de 2007

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